Baião

Música…

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    Baião de Ninar

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Nana baião de ninar

 sonha que tá dançando

acorda para brincar…

Nana no colo da mãe

Para lá e para cá

Nana no colo da mãe

para lá e para cá

Dorme dorme meu filho

Mamãe faz você nanar…

 

Baião de Ninar                                                                                                                                                                                

Música e letra de: Bárbara Trelha (2008)                                                                                                                       

Gravada em Florianópolis, 2016                                                                                       



Essa canção foi composta entre a vigília e o sono do meu filho Othávio quando ele era recén nascido. Compus enquanto cantava e o embalava para que adormecesse. Em muitas culturas a canção de ninar nasce e se perpetua justamente assim: Movimento integrado, acolhimento, calor, colo, balanço.

CURIOSIDADE S MUSICAIS:

O baião é um gênero musical brasileiro caracterizado por uma marcação rítmica binária. O rítmo também recebe o mesmo nome. No baião tradicional, o intrumento que marca essa pulsação é a  Zabumba. O ser humano também possui uma batida binária, e embora não sejamos um gênero musical, carregamos em nós, nossas pulsações. O coração é um dos primeiros sons que ouvimos, talvez o mais marcante nos primeiros momentos da nossa vida, ainda no ventre. É um som arquetípico, com duas batidas.

Célula rítmica do baião
Célula rítmica do baião

Encontrei essa gravação referente à canção “Baião é de Ninar”, do compositor Edino Krieger, músico  brasileiro. Não encontrei mais referências sobre o grupo que gravou, mas vale ouvir também.  Partitura em:  http://portal.brasilsonoro.com/baiao-de-ninar/ 

 

Discórdia

Após dilaceradas penitências formou-se esse poema. Tentei fugir do esquema poético e do linguajar metafórico,

mas tinha um amor debaixo das pernas dos meus poemas

e um homem pacato,

adormecido

em seus dilemas.

 

A pele adormecia

da saliva desviava,

o poema  dormia…

 

Mas ainda eu fugia,

do meu esquema

poético

patético

e metalinguístico.

 

Um dia desses juro que solto…

Largo

Fujo

Sigo

 

Uma hora dessas,

desesperado,

num tempo não previsto

eu saio

paro

desisto

 

Uma hora dessas,

CarregoDISCORDIA 2

Corro

Intuo

resisto

 

É que estou tentando fugir do meu esquema

poético

patético

metalinguístico

É que estou tentando fugir do meu esquema

Antes que isso tudo vire uma não-palavra

poética

patética

cética

e

metalinguística.

 

Dilacerações

Dilacerações  

A quebra

O corte, a queda.

Quantas coisas dependuradas

Riscando a percepção da espera.

 

Quanta arte desesperadaPutrefação

e deserta

Quanta calmaria inacabada

Desordenada

e incerta

 

A descrição dos fonemas amordaçados

É um exercício tolo de submissão

É quase um poema no escuro

Na oscilação

 

Já a claridade

Manchada de retórica

E monotonia

 

Grita e silencia.

 

Cabe ao leitor uma ausência insone

Sem abrir possibilidade para que o poema acabe

E não abre

 

 

Tema para Sonata

Essa canção que compus, nasceu para um filme curta-metragem em que…

Uma senhora de meia-idade, de família tradicional, tem que lidar com a gravidez da filha adolescente, em meio a fantasmas de uma história de abusos e moralidades. Essa é a sinopse de Sonata, cujo roteiro foi finalizado pelos integrantes do Foco – Laboratório de Audiovisual, na última semana de março. O segundo filme, intitulado O que aconteceu com você, Vera?, aborda as transformações e os dilemas vividos por uma mulher quando ela se torna mãe. O roteiro mostra uma protagonista de poucas falas, mas reações-limites.

“Tema para Sonata”

Vamos lá brincar

Vamos lá fora

Olha a luz do sol

Vejo a cidade vindo

Rompendo o farol

 

Vamos lá brincar

A criança a arrasta

O seu véu no luar

Vejo a cidade vindo

Rompendo o meu lugar

 

Quantas chances

A vida te dá?

A vida passageira…

Quantas voltas

O mundo vai dar

O mundo

Terra estrangeira

 

É a madrugada que chega

É a correnteza cristalina

Faz um tempo que não sou menina

Que não sou menina…

 

 

 

“Kiss of Fire” for Hugh Laurie

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O Tango e o ator Inglês

 

Ouço um tango

Sigo um passo

outro passo

 

Nasce o tango como um grito

Num  gemido que disfarço

 

Eu quase danço

Quase esqueço

O tango escrito

E o canto escasso

 

Bilíngues

 as vozes quase dançam um belo  tango de sotaque inglês.

Na inocência de uma dança elegante

Bilíngue

O tango e o ator inglês

 

Como uma boa garota latina

Meus pés se entrelaçam

Beijo o fogo

ouço o tango

                                         … e mais um passo

Breve ensaio sobre o medo…

  Muitos e11005721_875207599206197_1507666945_nnsaios têm escapado à minha caneta, à folha. Mas volto aqui como quem retoma o fôlego. Preciso desses ensaios como preciso de ar. Ainda que me pareça um exercício imaterial,  debruço-me a escrever na ânsia que o mundo me tome aos goles, como fossem meus escritos,  água gelada resfriando a alma  do corpo quente.

Quero apenas falar do medo.

Medo é uma palavra de origem latina. Medo é uma palavra de origem humana, de espectro complexo. O medo move e ao mesmo tempo paralisa. Sobre o medo e o amor, rascunhei na categoria POESIA  uma espécie de carta de amor e de medo. O assunto medo, me assaltou o instante literário. Não pela casualidade de sua persistência em vários momentos da minha vida, nem pela permanente aparição  que possui nas relações entre os homens.  Mas foi conduzida pelo impacto das palavras do escritor Mia Couto que surgiu esse gesto literário sobre o medo no trecho…

“ Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura e do meu território. O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo. No horizonte, vislumbravam-se mais muros do que estradas. Nessa altura algo me sugeria o seguinte: que há, neste mundo, mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas.”

( Mia Couto)

  

 

Carta de amor e medo…

 

    Tenho medo de te amar mais do que devia e, embora o amor não devesse obedecer regras e nem devesse possuir deveres, meu medo ainda se manifesta, indevido.DSC07034

A cada gole de amor que minha alma bebe ao estar ao seu lado, sinto medo                                              de inundar-me da falta completa de medo.

Olhar-te imperfeito me causa medo das minhas imperfeições.
Nossas impermanências me fazem lembrar que nada é plano nesse horizonte de medo e  oscilações, lugar cheio de lugares sombrios e escondidos.

Ao lembrar que o amor emancipa a alma, percebo que o que temo seria então, a liberdade. Pergunto-me atônita, por que a liberdade geraria medo? A liberdade que desamarra essas algemas tecidas de lã, nas agulhas cuidadosas do tempo. Essa liberdade que ameaça esse comboio chamado medo.

Não temo a morte. Diferente de tanta gente que conheço. Temo apenas que a memória se vá. Temo que a história da minha  vida vire um grande borrão de lápis recém apagado numa folha que se amassa aos poucos na rasura de uma borracha ruim.

Talvez por isso eu escreva. Como uma espécie de garantia de permanência, faço da escrita meu  rastro. No medo contante de me ver apagada no tempo, as palavras são como marcas no tempo. Embora a genética seja obviamente a forma mais concreta de permanência, é na escrita que sigo exitando, e no tremor de cada palavra, vencendo-me a cada medo.

Eu sentia mais medo antes de você chegar. Com seu olhar seco de realidade foi me trevelando meus próprios segredos.

Na falta de potência no meu medo,

a folha em branco se dobra

me acolhe

Se abre

Sem medo.

O medo tem desistido de ficar entre nós

E, por mais que uns intantes

entre eu e você

já quase não há medo.

Texto de Bárbara Trelha

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( Ilustração: Mia Couto em ” A Confissão da Leoa” )

Entre Vigília e Sono

   Todos os dias antes de dormir oro em agradecimento. Toda noite envio a Deus minhas indagações.

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Toda noite envio a Deus minhas indagações sobre o porquê de você estar em minha vida e em seguida entrego a um ser supremo o rumo de tudo; ser esse a quem delego os mistérios que minha consciência não responde.

Durante as orações acalmo minha ânsia de controlar a vida e seu fluxo interminável e ansiolítico.

Depois durmo.

Ao acordar, remonto quebra cabeças internos. Não sei porque essa coisa de pensamento metalinguístico me atormenta tanto, ao mesmo tempo que me parece tão pertencente e permanente em mim.

O que falo, às vezes,  é que procuro em nossa relação alguma dialética que forme sentido. Os sentidos começam a esfumaçar. Porém, ao experimentar o esvaziamento dedutivo, surgem uma sequência de rompantes e forças emocionais que me reconectam com você e com a experiência de uma relação supostamente cheia de vida.

Apesar dessas idas e vindas do meu eu, me chama a atenção que meu racionalismo calmo, prudente e justo, começa a ser invadindo muito sutilmente por um ambiente de pessimismo e renegação. Começo olhar as frestas que não vazam, o que não flui. Talvez sejam os temores, mas eles não aparecem como fantasmas. Parecem (seres) sercientes de lucidez e não de terror. É difícil e árduo é quase estático combatê-los.

O que falo nesse sermão, além da tonta- talvez tola- mania de em um devaneio absurdamente literário, me coloca em chamas a palavra. Nada que escrevo parece dar conta do indizível que é aprender novamente amar.

Então sempre escambo com a poesia. A prosa cede, a metáfora se instaura e eu volto a sonhar, rimando com meu indizível desejo de te amar.

Pensar em te deixar;

esse cometido pecado humano.

A terra

Esse pedaço firme de pano

Volúvel;

é o tempo me costurando.

Não entendo como a dualidade se instaura. Houve um tempo em que ela era tortura. Hoje ela só é sombra. Ando a pensar que em toda luz há uma sombra que se joga à superfície. Que em toda luz há uma sombra que se exime de ser o tema principal do conflito. Mas não queria falar de sombras, embora eu recaia nesse tema nostálgico e dolente.

Quando estamos juntos a luz se evidencia.

Talvez porque contrapondo-se à minha inclinação natural à sombra, meus sentidos me conduzem a uma leitura mais clara do meu eu. Porém, acabado o tempo, vejo-me sugada por um temor contínuo. Uma espera mórbida do dia da morte, como se fosse ela anunciada. Acho que resisto ao luto. Acho que resisto ao fechamento de ciclos como quem defende um brinquedo a todo custo, numa grande brincadeira envolvendo muitas crianças, dividindo seus lugares. Fico ansiosa, na imprecisão das minhas angustiadas sensações. Sensações por ver o tempo passar, como se eu não saísse do mesmo lugar. Essa sensação de estaticidade é estúpida. Se eu pudesse romper com esse fluxo de contenção… viveria livre  dos embates dialéticos de dentro de mim.

Chega a noite.

De novo.

Vou dormir.

E em uma fé de fluxo contínuo, agradeço. Aceito as respostas do dia que passou e aceito de um Deus supremo, que a tudo observa com vasta barba branca-azulada, o rumo incerto do destino.

Durmo;

e me acalmo do escuro que havia em mim.