“Penso que talvez a alma humana não possua limites para amar…”

introdução

Ouço muita ladainha em torno do assunto ‘amor’. Uma das falas mais comuns é sobre a existência de um amor maior que nos santifica de alguma forma. Um amor altruísta e edificante, capaz de purificar qualquer alma pecaminosa. Menos comum, ouço sobre outras formas de pensar o amor. Um exemplo é o amor visto do ponto de vista da neurociência. Ela o percebe como uma série potente de ligações sinápticas ditadas por experiências específicas. Também pouco se fala do amor sob um aspecto mais biológico. Para a biologia o amor pode ser  essencialmente guiado por hormônios que aproximam os corpos uns dos outros- por meio dos feromônios- com finalidade única de perpetuação da espécie.  Dentre tantas possibilidades de leitura, há quem olhe também para os  efeitos do amor na alma. Desconhecemos os mistérios da alma e seus códigos de funcionamento. Como os estudos da alma não cabem ainda nas mãos da lógica científica, ficamos à deriva, em observação. O ser humano logrou ao longo dos tempos a capacidade de imprimir a um conjunto de afetos um único nome: AMOR. Essa pequena palavra encerra em si uma variedade absurda de significados que se formam a partir de inúmeras sensações. São multi combinações fenomenologicamente inexplicáveis como o próprio tempo o é.  O fato é que desconhecemos o fenômeno ‘amor’ na sua inteireza tanto quanto desconhecemos as milhões de galáxias espalhadas no cosmo.  Mesmo quando falamos dos mistérios da criação, o amor é capaz de aparecer como um ingrediente deidificado, afinal Deus é também fonte de amor para os seres humanos. Na ânsia de dar organicidade ao amor e expressar as inúmeras formas de manifestação desse sentimento, usamos a linguagem. Por se tratar de ser mais complexo que a língua, o amor acabou levando homens a  buscar formas mais apropriadas de expressão. Formas linguísticas que transcendessem a simples comunicação social. Isso acontece quando conseguimos estabelecer uma relação semântica com o mundo do inefável. É quando surge a  ARTE, fruto de um bom casamento entre as experiências das linguagens com as coisas do indizível.  Nela, a aproximação do homem às coisas que lhe fogem à exatidão conceitual, mas que ao mesmo tempo o invadem. A arte, na sua premissa libertária de natureza ontológica, nos aproxima das coias que não conseguimos nominar. A arte naturalmente confere ao amor possibilidades de forma, cor, som, harmonia e sentido. Dá contornos às coisas humanas mais complexas e misteriosas. A arte possui uma semântica própria para  representar as coisas não decifráveis e de maneira intertextual, consegue desembaraçar as faces do amor.  O poeta Percy Shelley em seu ensaio sobre o amor, o  descreve como ”  o laço e a confirmação que conecta não somente o homem ao homem, mas a tudo que mais existe.” A imensidão desse assunto me me toca por ser o amor o combustível vivo de toda minha existência. Decidi escrever sobre meus devaneios acerca do amor em foma de ensaio. Decidi isso depois que meu filho mais velho, um dia desses, me abordou perguntando por quê o assunto amor aparecia tantas vezes em minhas canções. Eu disse a ele que me sentia assim: em repetidos estados de amor.  Após a resposta, me beijou a face de forma amorosa e, sorrindo, disse que já sabia. Resolvo escrever esse breve ensaio sobre o amor por me sentir muito amorosa e ao mesmo tempo tão distante do amor. Amar, na minha história, sempre foi um duelo interno. Permanecer no amor, uma constante luta entre trevas e luz, sombra e sol. Publicarei esse ensaio em partes. Os intervalos de tempo servirão para que o leitor possa fruir junto com o ensaísta, seus próprios devaneios acerca do amor.

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